Código de Nomenclatura Estratigráfica

Sem que se conheça objetivamente no campo o que é uma formação geológica, é impossível fazer-se um mapa, um código de nomenclatura ou tomar qualquer outra atitude relacionada à Geologia. Esta é a razão porque, até hoje, não existem nem mapas geológicos, nem um código estratigráfico correto, aqui e alhures.

Todos os estudiosos e cientistas da Terra, ao longo do tempo, sentiram o problema. Estamos há 136 anos da primeira tentativa de fazer-se um código, por iniciativa dos americanos [1], sem o conseguir. Realmente, nunca houve acordo sobre o que mapear para que houvesse de fato um mapa geológico.

A textura foi a primeira característica da rocha a chamar atenção dos geólogos para tentar caracterizar uma formação, no campo. Se a rocha era composta de matacões, areias, siltes, argilas, ou se tinha uma cor bem distinta (vermelha, preta etc.) era o bastante para ser chamada de formação. Posteriormente verificou-se que tanto uma como outra característica eram comuns para muitas formações, e geravam confusão.

Com a invenção do microscópio polarizado, e a crença de que o instrumento era mais poderoso para estudo das rochas, apareceram os petrógrafos e uma nova especialização, a petrografia. Por trabalhar com instrumento mais sofisticado, os petrógrafos passaram a ter mais autoridade, e por isso eram também mais consultados para estudar e nomear rochas, e até especular sobre sua origem, quando apareceram teorias mirabolantes, e desse ponto em diante, as rochas passaram a ser contadas aos milhares. [2] 

Os paleontólogos deram contribuição significativa para aumentar a confusão fazendo uma conexão imprópria entre fósseis achados nos pacotes sedimentares e os próprios sedimentos.

Nunca mais os geólogos mapeadores foram capazes de fazer um mapa sem consultar as descrições petrográficas dos petrógrafos, e esperar resultados de análises paleontológicas dos laboratórios de paleontologia. Existem mapas, levados a sério* dentro da Estatal brasileira de petróleo, que foram feitos apenas com esses recursos, não tendo por isso qualquer valor científico, explicando apenas o fracasso da pesquisa de petróleo na Bacia do Recôncavo.

As variações naturais das porcentagens de minerais formadores da amostra, determinadas pelos laboratórios de petrografia, subjetivas que eram, davam origem a uma nova rocha, e as coisas ficaram cada vez mais complicadas.

Entretanto, as tentativas de conseguir um meio que levasse ao esclarecimento sobre a origem das formações não pararam por aí. Geomorfólogos, sedimentólogos, geocronólogos, geofísicos, geoquímicos, químicos, botânicos, zoólogos e mais quem tivesse uma ideia nova a partir de uma especialização poderia sugerir uma nova ciência para esclarecer o que mapear. De fato, havia um fator de origem técnica que impedia chegar à formação geológica, que não podia ser levado em conta naquele tempo. Era o problema da escala do estudo. Todas essas ciências anteriormente nomeadas são praticadas em escalas muito grandes (escalas humanas), algumas ampliadas (petrografia e paleontologia), e com elas fica impossível conhecer o que é ou o que venha a ser uma formação geológica. O estudo desse objeto da natureza só pode ser feito com o auxílio de uma escala dez, cem ou mil vezes menor (escala reduzida, geológica) do que as escalas usadas pelos técnicos dos estudos acima mencionados. A confusão sobre o que mapear se tornou tal que só nos Estados Unidos, em 1938, haviam 13.000 formações, e possivelmente mais de 100.000 se fossem contadas as dos outros continentes.

Os americanos decidiram convocar o primeiro congresso de geólogos para tentar um consenso, alguma disciplina, uma ordem sobre o que deveria ser apresentado em um mapa, com a finalidade de facilitar o entendimento do que se chamava geologia naquele tempo (1878). O Primeiro Congresso Mundial de Geologia foi realizado em Paris, e tinha como finalidade exclusiva a padronização dos mapeamentos e dos relatórios geológicos (…uniformity in geological reports with respect to nomenclature and map simbols). Desse encontro nasceu o que viria a ser o atual Código de Nomenclatura Estratigráfica, e de lá (1878) para cá (2015) a confusão apenas aumentou. Aumentou o número de geólogos, mapas, relatórios, congressos, escolas, etc., cada um com a sua filosofia própria e pessoal sobre o que deveria ser chamado uma formação geológica, ou a unidade de mapeamento. Há geólogos que creem que dois mapas da mesma região feitos por pessoas diferentes sejam naturalmente diferentes. De fato, os dois mapas estarão naturalmente errados.

O mapa geológico de uma região, se for feito corretamente, é único e imutável como a fotografia de uma pessoa ou de um objeto. Dois geólogos que saibam mapear fazem dois mapas da mesma região exatamente iguais. Os atuais participantes de congressos de geologia continuam a se preocupar com o assunto, sem que até agora tenham encontrado uma solução para o problema.

O Código Brasileiro de Nomenclatura Estratigráfica [3] , uma tradução do código americano, acrescido de mais e maiores complicações, não tem qualquer chance de funcionar, pois, certamente, é difícil nomear algo desconhecido sem que a coisa nomeada não se torne empírica, fluida e subjetiva. Uma de duas hipóteses existe: ou a natureza é confusa, e jamais poderemos conhecer o seu funcionamento e sua origem, hipótese descartada, ou ela é, de fato, algo claro e simples, em que apenas ainda não foi desvendada a maneira correta de estudá-la.

Só é possível estudar a natureza através de um mapa correto, e este só poderá  ser construído se tivermos uma unidade definida para mapeamentos, independente de qualquer princípio matemático.

A formação é um corpo rochoso e existe de fato no campo. Apenas tende a passar despercebida devido ao seu tamanho. Ela é objeto de estudo em escalas diminutas, e não foi possível descobrir o que deveria ser mapeado ao tempo dos pioneiros, apenas porque não havia instrumentação e escala própria para que o estudo tivesse sucesso. Em outras palavras, não foi possível descobrir a existência da formação geológica antes, porque não havia sido descoberta uma maneira técnica de poder observá-la, predominando o resultado da observação pessoal feita pelos pioneiros em escala inadequada, o que a tornava subjetiva nas descrições.

Dissemos acima que para poder observar o que é uma formação geológica há necessidade de escalas diminutas. Esta possibilidade só apareceu no Brasil em 1971, quando foram obtidas imagens de radar do território brasileiro em escala de 1/400.000 e ampliadas para 1/250.000. Essas imagens foram recortadas em quadrículas de um grau por um grau e meio, que abrangem 18.481,50km2 e, mesmo assim, uma quadrícula dessas compreende parte mínima de uma formação. São necessárias várias delas para distinguir uma parte de qualquer formação. Para fazer-se ideia do tamanho de uma formação, a Formação Zeta (basaltos marinhos que surgiram com a separação continental) cobre cerca de 70% da área do globo terrestre, enquanto a Formação Alpha aparece em calculadamente 10%, porque é recoberta por formações mais jovens. A Formação Kappa cobre quase toda a Amazônia; forma os tabuleiros na parte central do Brasil; Chapada Diamantina; Morro do Chapéu; Chapada dos Veadeiros; Chapada do Araripe; Serra Grande; Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul, e outras chapadas ainda não mapeadas.

A concepção da existência física de UMA, e somente uma, formação geológica dentro da Bacia do Recôncavo, decorreu da verificação de que todas as dificuldades técnicas existentes nela são facilmente corrigidas, se no lugar de quatorze formações, atualmente admitidas, haja uma só. A justificativa para a modificação viria do estudo da paleontologia, que reportava a mistura de fosseis anacrônicos com teorias espúrias.

Naquela Bacia, inexplicavelmente, ocorrem fósseis antigos misturados com fósseis jovens (fósseis anacrônicos nos mesmos sedimentos), sem que haja explicação para o fenômeno. São invocadas falsas soluções (desabamento das paredes dos poços, contaminação do fluido de perfuração, má lavagem dos equipamentos usados em outros poços, diápiros etc.), a título de explicação para justificar-se o fenômeno. De fato, incorria-se em um erro grave: mapeava-se refossilizações. Os fósseis que ocorrem na Bacia do Recôncavo são todos redepositados ou refossilizados! A inexplicada mistura de fósseis do período Cretáceo da era Mesozoica com fósseis do período Devoniano da era Paleozoica, e mesmo os fósseis mais abundantes do Cretáceo, que se misturam entre si (fósseis da formação Ilhas encontrados na formação Aliança, na formação Sergi etc.), causam confusão e prejudicam a correta exploração do petróleo da Bacia.

Ora, se a natureza trabalha ordenadamente, é evidente que deve haver uma causa para o aparente absurdo (corrupção da Segunda Lei da Sedimentação). A pesquisa esclareceu o assunto, que se resumiu em redefinir a coluna estratigráfica.

A estratigrafia, como chave da ciência geológica, necessita uma revisão e consequentemente um novo código. O assunto se torna mais importante porque o problema não se verifica só no Brasil. Realmente, o panorama da ciência geológica no Brasil é apenas um reflexo da mesma ciência praticada no resto do mundo.

A admissão de que a Geologia, como atualmente entendida, é confusa e desnorteada em todo o mundo, é bem caracterizada pelos resultados obtidos em dois congressos de cientistas tentando o mesmo objetivo, verificadas no século passado.

O mais antigo é um congresso de geofísicos e geólogos que formaram um “Committee on the Interior of the Earth”. Em 1937, Beno Gutemberg (1887-1960) foi designado como chefe do Committee para reorganizar o mesmo, quando reuniu os mais expressivos nomes da ciência daquele tempo, entre os quais Charles Richter, H.Jeffreys e Hugo Benioff, publicando o resultado dos trabalhos em uma edição revisada sob o titulo de “Internal Constitution of the Earth[4] , com abundantes informações de origem sísmica, mas sem qualquer definição sobre a unidade de mapeamento ou a história da Terra.

O outro livro foi publicado após um congresso sobre estratigrafia, realizado em Bad Honnef (1982), nas vizinhanças de Bonn na antiga Alemanha Oriental, cujo título “Stratigraphy, Quo Vadis?[5] , permite a interpretação de que a desorientação atual da ciência continua. Trinta e oito doutores, mais dezesseis professores de quatorze países, ao fim do Congresso, continuaram tão inseguros como antes dele, porque nada foi resolvido sobre o problema central da Geologia: qual a unidade de rocha, e como mapeá-la.

A solução do problema foi dada no Brasil, em 1986, em trabalho apresentado ao Congresso Brasileiro de Geologia realizado em Goiânia, quando foram descartadas as várias formações em que era subdividida a coluna estratigráfica da Bacia do Recôncavo (formação Aliança, Sergi, Ilhas, Candeias etc.), substituindo-as por uma só: Formação Eta, no padrão do novo código aqui proposto.

Observar no quadro as duas colunas em conjunto para constatar a modificação procedida.

Na Coluna Ortodoxa, os fósseis aparecem como se estivessem organizados, dando como resultado a coluna estratigráfica incompreensível, confusa e errada. Na nova Coluna, as rochas estão organizadas como encontradas no campo. Os fósseis estão naturalmente desorganizados e justificados historicamente, resultando numa Estratigrafia coerente e especialmente simples.

A configuração da atual Bacia do Recôncavo é o resultado do ajuntamento, na mesma deformação negativa, dos sedimentos preexistentes em duas bacias fossilíferas diferentes, ao tempo da sua deposição. Neste caso, simplificadamente, na Bacia do Recôncavo existem apenas cinco formações geológicas, três das quais (Alpha, Beta e Kappa) sem importância para exploração de petróleo:

1. A Formação Alpha, ou embasamento;
2. Restos erodidos da Formação Beta;
3. Restos erodidos da Formação Épsilon;
4. A Formação Eta – a principal armazenadora de petróleo e
5. A cobertura horizontal da Formação Kappa.

A textura dos clásticos que formam Eta é de clásticos grosseiros, na vizinhança do falhamento, o que evidencia que a área-fonte dos sedimentos fica perto do seu local de deposição. A existência da falha observada no embasamento, conhecida como Falha de Salvador, sugere o levantamento e o basculamento daquela parte do embasamento, com a deposição ao seu lado dos sedimentos existente sobre ele. Este raciocínio sobre a origem da Bacia do Recôncavo gerou a ideia da lei que governa a arquitetura de uma formação geológica. A litosfera é passiva e delgadíssima. Move-se impulsionada por movimentos que acontecem no magma fluido do manto, gerando em superfície, várias estruturas, inclusive as formações geológicas.

Desse critério de estudo surgiram três conclusões importantes para a história da Terra:

• São apenas onze as formações existentes constituindo a litosfera do globo;
• A mistura de fósseis antigos e jovens nos mesmos sedimentos é uma evidência física e a chave para se compreender a separação e a migração continental, ou a passagem da paleogeografia para a atual.
• A Bacia do Recôncavo como um todo é uma evidência física das mais claras do fenômeno que deu origem à separação continental.

A sucessão vertical das formações geológicas recupera a história geológica e simplifica o problema do tempo, que não depende mais de análises paleontológicas ou geocronológicas, permitindo a compreensão do processo econômico, independente de estudos geológicos especialmente para exploração de petróleo. Entre esses benefícios encontra-se a solução para o que mapear, e como distinguir e nomear as formações por critérios puramente físicos verificados no campo.

Sucintamente, são onze formações, cada uma representando um período de tempo geológico, o que une rocha e tempo indissoluvelmente, coisa impossível de conceber se o tempo for determinado por métodos espúrios (paleontológicos ou geocronológicos).

As onze formações que determinam os períodos geológicos são contadas antes e depois da separação continental, fato que determina as eras geológicas, e uma dessas formações, precisamente a mais jovem (Formação Lambda), está em pleno processo de sedimentação ou construção, e é também o tempo atual da humanidade.

Conhecido e compreendido o que é uma formação, o código de nomenclatura fica fácil de conceber, facilitando os mapeamentos feitos com a nova estratigrafia global.

O NOVO CÓDIGO

A. Base Filosófica do Código

Art. 1º – Este código tem como princípio o fato da Geologia ser uma ciência histórica, e a Estratigrafia ser a chave dessa história.

Art. 2º – Sua base é a formação geológica, como será referida daqui por diante, sendo ela a unidade apropriada para mapeamentos regionais ou estratigráficos.

Art. 3º – Os mapeamentos regionais ou estratigráficos tem por objetivo a recuperação da história geológica das áreas mapeadas, com finalidade de conhecer as possibilidades econômicas das diversas formações e indicar a maneira correta de explorá-las.

B. Das Unidades de Rocha

Art. 4º – A unidade básica para mapeamento geológico é a formação geológica.

Art. 5º – Uma formação geológica é identificada pela sua litologia.

Obs: – A litologia de uma formação compreende os seguintes parâmetros os quais fazem parte da sua descrição: nome da formação, origem, ocorrência, correlações, posição estratigráfica, texturas, estruturas, composição mineral, propriedades físicas e economia.

Art. 6º – Os limites superior e inferior de uma formação, ou os seus contatos, são necessariamente discordâncias

Art. 7º – O coletivo de formação é um grupo, que é termo de referência, mas não é mapeável.

Obs.: São dois os grupos existentes no globo: o primeiro grupo formou-se antes da separação continental, e por isso chama-se Grupo Pangaeiânico e o segundo depois, ou como consequência e tem o nome de Grupo Atlantiânico.

Art. 9º – Parte de uma formação é um membro, e seu mapeamento é facultativo dependendo da sua importância econômica ou científica.

C. Das Unidades de Tempo Geológico

Art. 10º – A unidade de tempo geológico é o período, e necessariamente corresponde à espessura de uma formação, sem conotação com número de anos.

Obs. – São onze os períodos geológicos: cinco gravados na Segunda Era – Era Pangæiânica, e seis na Terceira Era – Era Atlantiânica.

Art. 11º – O coletivo de período é uma era.

Obs. – São três as eras geológicas. A primeira não foi gravada litologicamente. A segunda e a terceira são referidas a antes e depois da fragmentação continental.

Art. 12º – Parte de um período é uma época, e corresponde a um membro de uma formação.

D. Nomenclatura da Unidade de Rocha

Art. 13º – A nomenclatura da unidade de rocha é formada de dois verbetes: a palavra formação seguida da letra do alfabeto grego correspondente à unidade como definida. Quando conveniente, o primeiro verbete pode ser abstraído. Ex. formação Alpha ou apenas Alpha.

Art. 14º – A nomenclatura do grupo é formada por esta palavra, seguida do nome do fenômeno físico ligado ao grupo, com a terminação iânico. Ex.: Grupo Atlantiânico para as formações aparecidas após a separação continental ou Grupo Pangæiânico para a formações sedimentadas ao tempo do monocontinente.

Art. 15º – A nomenclatura do membro se faz com esta palavra, seguida de um nome geográfico conveniente ou adequado.

E. Nomenclatura das Unidades de Tempo

Art. 16º – A nomenclatura das eras é feita com a palavra era, seguida do verbete correspondente ao acidente físico que a caracteriza, com a terminação iânica. Ex. Era Atlantiânica.

Art. 17º – A nomenclatura do período se faz com esta palavra seguida do nome da formação correspondente, com a terminação iano. Ex. Período Alphaiano, Betaiano etc. A terminação caracteriza o tempo e dessa maneira, quando conveniente, pode-se abstrair o verbete período.

Art. 18º – A nomenclatura da época é feita com o nome da formação, seguida do designativo superior, médio e inferior. Ex.: Eta inferior, Eta superior; Kappa médio etc.

Esta é a resposta para a indagação feita pelos americanos em 1878 (130 anos passados), diante do problema sobre o que mapear com o nome de mapa geológico. É também a resposta aos enigmas existentes e persistentes na Bacia do Recôncavo e outras partes do globo. É uma ajuda aos curiosos sobre a natureza dos fenômenos geológicos, mas o mais importante de tudo é a solução para o sucesso e barateamento do serviço de pesquisar petróleo, melhorar a economia das nações,  acabar com o subdesenvolvimento, a pobreza e a ignorância.