Origem e Evolução da Vida
Analisamos anteriormente o papel da paleontologia na pesquisa de petróleo, tanto dentro dos laboratórios da Petrobras, como na prática do campo, e veremos agora o papel da geofísica sob os mesmos aspectos, manuseando os prospectos e relatórios finais dos arquivos da Estatal. Os poços analisados são os marcados no mapa da Bacia do Recôncavo, e as perplexidades para o pesquisador foram as mesmas: não havia qualquer vantagem no uso da sísmica. Nenhum dos prospectos formulados para os poços programados para a Bacia do Recôncavo teve qualquer êxito.
Os resultados dos prospectos sísmicos tinham mais crédito, pois se tratava de uma ciência de base matemática, que fora sucesso em outras partes do mundo, realizados por companhias americanas e inglesas de renome, além de uma propaganda mais convincente sobre seus resultados. Ninguém notou que os sucessos daquelas experiências foram bons porque foram realizadas em áreas onde o petróleo era, e continua sendo, muito abundante, ao ponto de haver na região (Oriente Médio) riachos de petróleo e muitos “oil seepages” derramando óleo à superfície. Qualquer método que fosse ali experimentado seria, sem dúvida, um sucesso, como aconteceu com a sísmica. No Brasil, o método não funcionou e, para cada fracasso, sempre havia uma desculpa justificando os erros a que os técnicos eram induzidos a cometer.
De fato, nem a simples perfuração de um prospecto nem os estudos geofísicos e/ou geológicos, ou a combinação deles poderia solucionar o problema de encontrar e fazer uma produção econômica de petróleo para o Brasil, pois a solução do problema exploratório neste tipo de bacia não se resolve com este tipo de ação, como veremos adiante.
Apenas para relembrar, dissemos anteriormente que os estudos geológicos começaram a ser feitos no início do século XIX, quando foram dados os nomes às camadas que foram chamadas de “formações” Aliança, Sergi, etc., e que ainda hoje funcionam na Bacia do Recôncavo. A coluna estratigráfica fora definida erradamente, em virtude da falta de apoio e de meios do tempo em que ela foi definida. Quando apareceu a paleontologia para ajudar no estudo da Bacia a estratigrafia já estava contaminada pelo erro inicial, levando de cambulhada a própria paleontologia, os perfis elétricos e a sísmica.
Os técnicos da Petrobras seguiram o mesmo caminho e nos seus estudos procuravam as “formações”, seus contatos, espessuras e as “estruturas”, onde possivelmente haveria petróleo a ser descoberto. Era como procurar um fantasma, que não existia. Pior de tudo era que, mesmo assim, o “fantasma” era encontrado, identificado, reconhecido e media-se as espessuras, calculava-se a sua profundidade, etc. Entretanto, a realidade das perfurações mostrava que a busca era inútil.
Os trabalhos geofísicos eram, principalmente, desempenhados pela sísmica e gravimetria, mas amplamente dominados pela sísmica, especialmente porque as chefias eram dessa área e isso pesava muito.
Vale a pena deixar claro alguns pequenos problemas existentes nos corredores da Petrobras entre os homens da área técnica, por exemplo: os geofísicos desconfiavam do trabalho dos geólogos, os geólogos não acreditavam nos geofísicos, e os engenheiros da perfuração não acreditavam nem nos geólogos nem nos geofísicos. Não havia uma equipe unida para conseguir alguma coisa, mas uma espécie de “cada um por si e deus por todos” para ver quem seria o primeiro na linha de chegada.
A história nos diz que o sismógrafo foi inventado, em 1880, por John Milne (1850-1913) lá no Japão, para estudar os terremotos, fenomeno que gerava ondas sísmicas. Os americanos, sempre muito inventivos, raciocinaram: se serve para estudar o subsolo e não há terremotos, por que não provocar algo parecido com eles para pesquisar petróleo?
Tal raciocínio deve ter se passado na cabeça do Dr. J.C. Karcher (1894-1978) lá em Oklahoma, em 1921, quando imaginou uma experiência com a nova possibilidade. Os abalos eram provocados por explosões captando-se as ondas resultantes. Com tal recurso o uso do sismógrafo foi desviado de sua filosofia. Não seriam mais somente os terremotos os objetivos do aparelho inventado por Milne, mas as riquezas do interior da Terra, inclusive as estruturas possivelmente cheias de petróleo.
Em 1928, apoiado por um “oilman” chamado E. L. DeGolyer (1886-1956), “the father of American Geophysics,”, o método foi experimentado, e o poço locado com a ajuda do método gerou um poço produtor de óleo e se firmou em definitivo como método de pesquisa geológica. Então, o uso do método sísmico apareceu, supostamente, no momento exato da sua necessidade na indústria do petróleo.
A corrida ao “ouro negro”, depois de descobertas as suas qualidades e usos, começou no meio do século passado, e muitas teorias e técnicas, todas ditas geológicas, apareceram para explicar a existência daquela substância que saía da terra. O insucesso se incumbia de desacreditar seus autores e a “geologia” então praticada.
A tal ponto chegou o descrédito que foi dito em publicações que: “Geology has never filled an oil tank” (“A geologia nunca tinha enchido um tanque de óleo”); e mais contundente ainda: “… if somebody wanted to make sure of a dry hole, he would employ a geologist to select the location“ (…se alguém quisesse ter certeza de furar um poço seco deveria chamar um geólogo para fazer a locação.”). Foi quando apareceu o Dr Karcher e DeGolier mencionados anteriormente.
Supunha-se que o petróleo ocorria em estruturas, horsts, grabens e outras teorias próprias de um tempo antigo, quando as informações científicas eram precárias, dando chance para que as teorias sobre a ocorrência do petróleo fossem aleatórias e sem fundamento.
As companhias operadoras do método geofísico, como qualquer companhia comercial, passaram a vender os serviços da geofísica como se uma maravilha fosse na procura do petróleo, atitude que continua até hoje. Como a geologia era uma quimera, foi natural que se deixasse de lado a difícil Geologia, apelando-se para os novos instrumentos, que se apresentavam cheios de cálculos e fórmulas impressionantes, apresentadas em modelos eletrônicos maravilhosos. Apenas que não há relação entre uma coisa e outra. Descobria-se petróleo porque as áreas onde as experiências foram feitas, eram e continuam a ser áreas prolificas até hoje, com ou sem método ou teiorias
Nas companhias de petróleo, inclusive na Petrobras, na Bacia do Recôncavo, a sísmica era e é incumbida de buscar as supostas estruturas, as espessuras das formações, a profundidade onde deveria ser encontrada a principal formação armazenadora do petróleo, que se chamava e ainda se chama de “formação Sergi”, e por fim o próprio embasamento.
Vamos relatar o que constatamos ao estudar os prospectos do Recôncavo, ressaltando que os poços foram escolhidos entre milhares existentes nos arquivos da Empresa para figurarem aqui, porque neles os defeitos da ferramenta geofísica é mais evidente, mas outros poços podem ser verificados por qualquer pesquisador a qualquer tempo nos arquivos da Estatal.
Evidências do Erro Geofísico
A principal função da sísmica no Departamento de Exploração era determinar a estratigrafia vigente (contato entre as formações), a profundidade do embasamento, onde se assentam as rochas armazenadoras de petróleo, os blocos onde deveria estar armazenado o petróleo, os falhamentos, os dobramentos e demais estruturas. A teoria sismológica foi criada na suposição de que o instrumento poderia examinar a subsuperfície, onde era impossível a penetração humana.
Vamos apreciar os prospectos, as previsões sísmicas e a constatação da realidade das perfurações feitas em diversas áreas do Recôncavo.
Naquele tempo, os principais objetivos para encontrar petróleo eram as formações Sergi e uma anomalia interpretada dos perfis elétricos chamada de Zona A, a qual também era tida como refletora dos sinais sísmicos.
Usaremos o método comparativo entre o prognóstico ou o prospecto do poço e o observado depois da construção do mesmo. Vejamos exemplos notáveis existentes nos arquivos técnicos da Estatal Brasileira.
ÁREA DE CAPIANGA
1-CG-1-BA
O 1-CG-1-BA seria um poço situado sobre uma plataforma rasa segundo os geofísicos. O Sergi seria encontrado a 1.117m e o embasamento a 1.617 de profundidade segundo o prospecto. A sonda que furou o poço tinha capacidade para furar 1.800m. Na figura 10.1 A, vê-se o prognóstico estratigráfico. A sonda furou até 1517m, onde, erradamente, influenciado pela previsão sísmica para a profundidade do embasamento (que o tinha previsto a 1617m), o geólogo encontrou um falso embasamento (um conglomerado cujos seixos incluem fragmentos de rochas ígneas, fato comum neste tipo de bacia).
O embasamento, de fato, é muito mais profundo naquela locação, como se verá mais adiante em um poço-teste, o Cabeceiras-1. A estratigrafia ficou indefinida. Os estratos que foram chamados de Sergi e Aliança são sedimentos infestados com fósseis do tempo Ilhas, mais jovens do que o tempo de sedimentação das camadas Sergi que formariam o fundo da Bacia, não podendo por isso serem chamados de Sergi e Aliança. A sísmica tinha determinado “formações” que não estavam lá e o próprio embasamento das rochas também desaparecera. Para acomodar a estratigrafia achada foi necessário o auxílio de uma falha “inventada” pelo geólogo, (desde que a sísmica não a atinha previsto) que colocou os sedimentos Ilhas contra o Sergi (figura 10.1 B). Era uma falha para “quebrar o galho” como se diz popularmente. A embaraçosa situação fora criada pela informação do laboratório de Paleontologia que tinha determinado a ocorrência de fósseis do tempo Ilhas aos 1100m de profundidade, onde a sonda já deveria estar penetrando o Sergi que é uma areia estéril em fósseis como explicado.
De fato, o laboratório da paleontologia continuou a determinar fósseis do Ilhas até o fundo do poço, inclusive no Aliança, o que já não era somente um erro, mas um erro absurdo. O geólogo foi censurado pela “falha” e refez a interpretação (figura 10.1 C). A pendenga só foi dirimida no Rio de Janeiro, com o auxílio do perfil elétrico corrido no poço, quando foi totalmente abandonada a informação do laboratório paleontológico (figura 10.1 D). Não foi uma solução correta, pois o pessoal da Diretoria, também, não conhecia o problema. Foi uma solução de chefia, tão errada como as anteriores, servindo apenas para terminar a quizila.
O estudo do poço mostra que:
• a falha não existe;
• a plataforma rasa da sísmica, não é rasa, nem é plataforma;
• não é o embasamento que está no fundo do poço, mas um conglomerado cujos seixos incluem rochas ígneas verificados em testemunho;
• a estratigrafia na região ficou e continua indefinida e
• o poço foi tamponado e abandonado.
ÁREA DE SUBAUMA
1-SU-1-BA
Nesta área existe apenas um poço, 1-SU-1-BA construído logo após o pioneiro de Capianga em 1959, ainda um trabalho resultante do mesmo mapeamento sísmico. O poço foi furado sobre a mesma plataforma rasa 7km SW do Capianga. Segundo as previsões da sísmica, o Sergi deveria ser encontrado a 1610m, e a profundidade total do poço seria de 1630m. Na figura, o poço à esquerda é a previsão feita no prospecto. O da direita é o resultado da perfuração.
O poço, influenciado pela previsão da sísmica, foi furado por uma sonda com capacidade para alcançar 1800m, e alcançou 1896m depois de ter a coluna de perfuração trocada por uma mais leve. Mesmo assim houve uma prisão da ferramenta e quase o poço foi perdido. Foi tamponado e abandonado como seco sem ter alcançado quaisquer dos objetivos para que foi programado pois a estratigrafia e todas as previsões sísmicas estavam erradas.
Em Subaúma a plataforma contendo o Sergi foi prevista bem mais profunda, a 1630m e o poço foi a 1896m (266m abaixo) e ainda continuou “pendurado” em sedimentos desconhecidos. Constata-se então que:
1. Os estratos que foram chamados de Sergi e Aliança, como em Capianga, estavam infestados com fósseis mais jovens (fósseis do tempo Ilhas!) que a idade daquelas formações, o que impossibilita de serem chamadas de Sergi e Aliança desmentindo a previsão sísmica feita no prospecto.
2. À superfície estava o Barreiras em vez do S. Sebastião.
3. O Itaparica que não fora previsto apareceu, inclusive com espessura anormal.
4. A sonda ficou pendurada em sedimentos desconhecidos limitada pela sua capacidade de perfuração (consequência da previsão equivocada do embasamento feita pela sísmica, passada ao pessoal da perfuração), e finalmente
5. A plataforma rasa da previsão sísmica, outra vez, não tinha qualquer validade física!
As reuniões técnicas para apreciação dos resultados do poço, aparentemente só serviram para verificar a não ocorrência de petróleo. Não havia quem se importasse se os resultados geológicos tinham ou não sido confirmados. Aparentemente as discrepâncias entre o previsto e o encontrado, não eram importantes e os erros começavam a se acumular.
ÁREA DE CABOCLO
1-CLO-1-BA
Nesta área existem dois poços. O primeiro, 1-CLO-1-BA é o furado em 1962 para testar uma “…anomalia do embasamento em forma de nariz estrutural…” prevista na interpretação sísmica. Os objetivos principais seriam como sempre, a Zona A e o Sergi que estariam a 502m e 527m respectivamente. Compare-se na figura ao lado o que foi previsto com o que foi encontrado pela perfuração. A Zona A foi encontrada a 426m e o Sergi a 468m e, diz o geólogo, o poço fora cortado por uma falha neste ponto. O Aliança que não fora previsto, apareceu, e o poço que deveria ter ido até os 550m de profundidade total, furou até 756m, (200 m mais baixo!) e ficou pendurado em sedimentos desconhecidos.
Nenhum destes parâmetros existe na locação e a sísmica não pôde determinar, sequer, a existência da “falha” que tinha cortado o Sergi e ainda, tanto o “nariz” (sic) estrutural como a plataforma rasa prevista desapareceram de novo.
Vejamos o 2º poço.
1-CLO-2-BA
O segundo poço da área é o 1-CLO-2-BA, figura 10.5A, uma consequência do primeiro poço e ainda um prospecto da sísmica. A falha, (não prevista pela sísmica) que tinha cortado o Sergi no primeiro poço, e que o deixara apenas com a sua parte inferior (sem petróleo), determinava um bloco elevado, onde o Sergi deveria estar com toda a sua espessura e por isso com todo o petróleo da estrutura.
Veja a figura 10.5B onde está representada a ideia dos intérpretes.
No novo prospecto (parte central da figura) o bloco a ser furado estava estruturalmente mais alto: a sísmica previu o Sergi aos 450m e a profundidade total do poço seria de 520m dentro do Sergi. Dessa maneira o segundo poço, encontraria o Sergi bem mais alto, com toda a sua espessura e consequentemente em posição mais favorável para abrigar hidrocarbonetos, segundo as crenças da gerência, como mostrado no esquema.
O prospecto do segundo poço, considerando o deslocamento da falha do primeiro poço, da ordem de 130m (segundo o relatório), previu o Sergi a 450m na segunda locação, quando no primeiro ele foi encontrado a 468m. Essa situação faz o Sergi inferior ficar com 90m de espessura, enquanto o superior ficaria com 18m apenas. Furado o poço, (direita da figura) o que foi chamado Sergi foi encontrado aos 637m, 187m mais baixo que a previsão e o poço furou até 780m, parando em sedimentos desconhecidos. Impossível dizer que o prospecto cumpriu seus objetivos. Saiu tudo errado de novo.
Resultados:
1. A coluna estratigráfica mostra fósseis jovens em sedimentos tidos como antigos anulando a nomenclatura e a previsão sísmica.
2. O alto estrutural, prognosticado pela sísmica, a sonda mostrou ser um baixo.
3. A espessura do Sergi era a mesma encontrada no primeiro poço, demonstrando que a “falha” do primeiro poço, também fora inventada e simplesmente não existia.
4. O Sergi que deveria ser encontrado mais alto que no primeiro poço, foi encontrado muito mais baixo, evidenciando que não havia a estrutura preconizada pelos interpretes da sísmica.
5. O poço é seco, tamponado e abandonado e com ele, mais alguns milhares de dólares do povão. Confrontando os principais parâmetros previstos/obtidos e as suas consequências para o raciocínio geológico.
O poço que furaria 70m dentro do Sergi, até os 520m, furou realmente até 780m ou seja, 260m além do previsto dentro do foi chamado de formação Aliança que não fora prevista demonstrando a impossibilidade dos instrumentos sísmicos preverem topos de formações, que nesse caso, tem de ser inventados.
O Sergi da locação continuava com 90m de espessura, que era a mesma medida observada no primeiro poço, o que mostra que ele não fora cortado por falhamento de qualquer espécie demonstrando a impossibilidade dos instrumentos sísmicos preverem qualquer tipo de estrutura, as quais, nesse caso, tem de ser inventadas.
Em vez de alto aos 450m (-250m), o Sergi foi encontrado quase 200m mais baixo, aos 637m (-434m), o que mostra que a estrutura e o topo do Sergi, mapeado pela sísmica, também eram uma abstração.
A situação estrutural muda para o oposto. A “falha” se existisse, não mergulharia para norte, mas para o sul e o bloco seria baixo e não alto como prognosticou o interprete das informações sísmicas.
Apesar dessas irregularidades técnicas contra os mais comezinhos princípios geológicos, não há qualquer documento que evidencie um questionamento dos resultados do poço ou uma explicação dos interpretes da sísmica para os fatos.
Se, por acaso, houvesse sido furado somente um poço, ou se o mesmo tivesse descoberto petróleo novo, qualquer teoria seria aceita como verdade, e a sísmica tomada como uma boa alternativa exploratória, como aconteceu em Oklahoma nos EUA e no Iran no início do século XX. Se cotejado com o outro poço desmonta-se a teoria de ambos. O poço foi tamponado junto com milhares de dólares, e abandonado como seco devido aos erros de interpretação das pesquisas sísmicas.
ÁREA DE FAZENDA SORI
1-FS-1-BA
Esta área fica situada imediatamente ao norte dos poços de Lamarão e Rio Joanes, na parte mediana da Bacia. O pioneiro da área 1-FS-1-BA, é mais um prospecto da sísmica. “O poço vai testar uma estrutura de bloco elevado por falhas, com boas possibilidades de fechamento etc…” diz o prospecto. Sua profundidade final será aos 2.600m, mas pede-se uma sonda para perfurar 3.000m de maneira garantir as incertezas dos intérpretes quanto a profundidade. Vai para o poço uma sonda adequada para atingir a profundidade estipulada pela sísmica. O poço furou até 3.120m ficando pendurada em sedimentos desconhecidos e sem definição, 520m (mais de meio km!) além da previsão sísmica.
O poço nº 2, 1-FS-2-BA dista do pioneiro, 2.800m e seu prospecto afirma que:
“…Baseado no mapa estrutural sísmico do topo do Ilhas inferior, a locação está no mesmo bloco do 1-LM-1-BA e em bloco alto relativo ao 1-FS-1-BA.”
O poço que inicialmente deveria alcançar 3.000m, foi, durante a perfuração, antecipado para terminar aos 2.000m porque àquela profundidade já se estava perfurando sedimentos mais antigos do que os que tinham produzido algum gás no primeiro poço contradizendo o prognóstico feito pelo método sísmico. O poço foi tamponado e abandonado como seco e um dos rádios da pasta do poço diz:
“Após a perfilagem constatou-se que o FS-2 situa-se 150m mais baixo que o LM-1 e 70m mais baixo que o FS-1, incoerente com posição estrutural preconizado pela sísmica.”
Vale a pena constatar dois pontos:
1) A sísmica estava a mapear o topo de uma zona paleontológica um absurdo geológico e,
2) Apesar dos resultados continuava-se a recomendar mais estudos sismológicos.
ÁREA DE D. JOÃO
1-DJX-6-BA
O poço 1-DJX-6-BA é uma locação oriunda do serviço de gravimetria, outro método físico de detalhe. Este método geofísico previu, na locação, o Sergi a 400m de profundidade. Não havia apoio por parte da sísmica pois, segundo suas informações, aquela profundidade (da gravimetria) deveria ser pelo menos dobrada (contradição entre os métodos!).
De acordo com a sísmica aquela formação estaria, pelo menos, a 800m. Observe a ilustração para compreender melhor a primeira contradição aparecida antes de perfurar o poço. A sonda furou até 1125m, ou 325m além da previsão sísmica e 725m além da de gravimetria, ficando, mais uma vez, pendurada em sedimentos desconhecidos. A areia que foi chamada, irresponsavelmente, de Sergi foi encontrada a 1044m. O poço, de novo, junto com milhares de dólares foi tamponado e abandonado como seco. Veja na figura a disparidade entre a realidade e as interpretações, sem que alguém com isso se importasse.
ÁREA DE MALOMBÊ
1-ML-1-BA
Área situada no nordeste da Bacia. O pioneiro do campo iria testar uma estrutura delineada pela sísmica situada em área favorável. O poço furaria até o embasamento para fornecer dados estruturais. Os objetivos seriam a Zona A e o Sergi. A Zona A deveria ser encontrada a 1200m de profundidade, o Sergi a 1300m e o embasamento a 1800m.
Furado o poço a areia que foi chamada de Zona A foi encontrada a 1.028m; a que foi chamada de Sergi a 1.114 e o embasamento a 1.564m, com uma defasagem para menos de 172, 186 e 236m respectivamente para cada um dos parâmetros da subsuperficie.
O embasamento está erradamente previsto em todas as locações da área. Os sinais sísmicos devem ser interpretados de outra maneira: são anomalias de velocidade das ondas, dentro de clásticos grosseiros, abundantes, especialmente, na margem oriental da Bacia e isso nao ajuda na pesquisa de petróleo.
ÁREA DE FAZENDA CAMPINHO DE CIMA
1-FCC-1-BA
O poço 1-FCC-1-BA, verificou um prospecto delineado pela sísmica no topo da formação Estância, cujos objetivos seriam o Sergi e os arenitos da formação Candeias. Pelo prospecto, a Série Estância estaria a 2.547m de profundidade, conforme a interpretação dos geofísicos.
A perfuração foi encerrada a 3.384m por ter se esgotada a capacidade de perfuração da sonda, diz o relatório final do poço. De fato, a sonda que furou o poço tinha capacidade para furar 3.000m e furou quase 400m além do seu limite e 837m além da previsão sísmica.
Ao final do poço verificou-se que na locação:
1. Não havia nenhuma estrutura alta, mas um baixo estrutural;
2. tanto o Sergi como o Estância desapareceram da locação.
Apesar dos erros grosseiros, na gerência da exploração nada era feito para esclarecer o grave erro, nenhum comentário foi feito sobre o assunto, mas a sísmica continuava a ser a principal arma exploratória.
ÁREA DE CURRALINHO
1-CRO-1-BA
Em Curralinho, diz o prospecto do poço 1-CRO-1-BA:
“A previsão da profundidade total desse poço depende da exatidão dos diagnósticos estabelecidos pelas interpretações dos dados sísmicos e geológicos que colocam o embasamento a 1500m e 2110m. Segundo uma e outra interpretação, a profundidade final será de 1280m ou de 1820m após penetrar 50m na formação Sergi.”
Foi designada para perfurar o poço a sonda 27, com capacidade para perfurar 2.200m.
A perfuração alcançou a profundidade final a 2.174m, quase o limite da capacidade de perfuração da sonda e parou dentro de sedimentos que foram chamados de Sergi e o embasamento não apareceu nem mesmo para a previsão mais profunda! Ambas previsões – geológica e geofísica – estavam completamente equivocadas e, pior de tudo, confundia-se mais uma vez sedimentos com embasamento, isto é, os interpretes não distinguiam ao menos clásticos dos granitos da base. Uma e outra previsão colocava o embasamento onde só havia sedimentos.
ÁREA DE CABECEIRAS
1-CAB-1-BA
Cabeceiras é o poço-teste para verificação do acerto das críticas sobre o método geofísico. Não havendo uma prova como esta, poderiam pairar dúvidas sobre as conclusões feitas nos poços anteriormente vistos. Cabeceiras vai provar que havia erro no raciocínio exploratório. É um prospecto de origem sísmica, com apoio dos estudos de superfície e da gravimetria, e testaria uma estrutura de:
...forma dômica secionada por falhas de pequeno rejeito com reflexão no embasamento.
O poço 1-CAB-1-BA foi locado sobre uma estrutura conhecida entre os geólogos como Plataforma Quiricó/Limoeiro ou Quiricó/Laranjeiras, onde a Bacia, pelo que indicavam os mapeamentos sísmicos, seria rasa. Lembremos mais uma vez, esta locação situava-se entre outros poços problemáticos comentados anteriormente, todos pendurados em sedimentos desconhecidos devido aos erros de profundidade cometidos pelos interpretes dos sinais sísmicos: 1-SU-1-BA, 1-CAL-1-BA, 1-CLO-1 e CLO-2, 1-CG-1 e 2, cujas profundidades e estratigrafias estavam indefinidas.
Este poço vai demonstrar que todos aqueles prospectos estavam errados, pois o embasamento naquela parte da Bacia não é raso. O que ocorre àquela profundidade é um conglomerado formado também com fragmentos de rocha do embasamento, fato comum em toda a Bacia. As interpretações realizadas pelos técnicos da sísmica, sem a informação paleontológica indicavam pouca profundidade para a locação. Mas como os poços ao redor tinham problemas de estratigrafia e profundidade (estudados anteriormente), esta deveria ser bem maior, segundo o autor e pesquisador da estratigrafia da Bacia.
A sonda designada para o poço foi a no 64 com capacidade de perfurar 3.000m.
Pelo prospecto do poço, o Sergi deveria ser encontrado aos 2.160m e a profundidade final seria a 2210m depois de penetrar 50m no Sergi.
Posteriormente, já em plena perfuração, o poço foi aprofundado para solucionar problemas estratigráficos da região, levantados pelo autor deste estudo, pois havia polêmica sobre a existência ou não da plataforma rasa. A sonda furou até 3.164m ultrapassando a profundidade estabelecida no prospecto e a capacidade de perfuração da mesma, sem encontrar os objetivos prognosticados inclusive o embasamento. A broca ficou pendurada em sedimentos desconhecidos, por incapacidade de penetração da mesma, demonstrando
1. A inexistência da plataforma;
2. O completo desajuste da estratigrafia, tanto nos poços anteriormente perfurados como no poço teste.
3. A confusão dos intérpretes até para distinguir nos sismogramas a diferença entre sedimentos e embasamento.
O poço foi tamponado e abandonado como seco. Nas atas das reuniões e no relatório final do poço, reconheceu-se que o mesmo não tinha cumprido o seu programa. A perfuração alcançou 3164m de profundidade e…
…decidiu-se paralisar a perfuração em consequência de haver sido esgotada a capacidade da sonda. (Relatório no.11 da pasta do poço).
Foram 165m além da capacidade da sonda e 1.000m, 1km (!) além da previsão sísmica para o Sergi, ficando a sonda pendurada em sedimentos desconhecidos. Não havia nenhuma plataforma, especialmente rasa e confirmava-se a total prostituição da estratigrafia usada na exploração da Bacia. A sísmica dessa vez tentou explicar-se:
“A linha sísmica de refração 12-R-46 mostra no SP 12-1465, próximo a locação uma profundidade máxima do embasamento de -3000m, usando-se no cálculo a função velocidade normal do Recôncavo. O levantamento acústico do poço indica no entanto velocidade sísmica maior do que o normalmente empregado. Na interpretação de reflexão, o intérprete deu maior peso aos dados de reflexão em detrimento aos de refração, razão pela qual a previsão de profundidade foi muito menor daquela que se obteria se usasse os outros dados sísmicos disponíveis.” (Documento da pasta do poço).
Crucificava-se o interprete, mas o método continuava sagrado. Indiscutível, embora fosse ele o vilão.
A tentativa de explicação justificou apenas o poço de Cabeceiras, pois não foram mencionados os outros poços furados na mesma região: Capianga, Caboclo, Subaúma etc. Esses poços foram furados até pouco mais de 1.000m pela suposição de que havia uma plataforma rasa naquela região. Observar que a profundidade alcançada pelo poço de Cabeceiras poderia ter duplicado a profundidade dos outros poços, se não fosse a impossibilidade mecânica de fazê-lo, sem que se encontrasse nada do que foi prognosticado. Fica a pergunta: será que a velocidade usada nos outros poços foi a correta? Será que deveremos ter uma justificativa para cada erro havido nos prognósticos anteriores? Qual quantidade de petroleo pode ainda ser descoberto naquela região?
É evidente a inexistência da plataforma rasa que qualquer geofísico que tenha trabalhado na Bacia jura que tem. É que eles não sabem que os sinais sísmicos não funcionam, e trabalham como se eles funcionassem. Entretanto, se o poço tinha sido construído para comprovar-se se havia ou não havia erro, era tempo da chefia dar uma parada técnica para rearranjar o “meio do campo” como se diz em linguagem popular, ou seja, repensar o prosseguimento da exploração da bacia com apoio sísmico. Mas, a chefia do antigo SETEX era exercida por outro geofísico. Ele aceitou a justificativa dada pelo serviço da geofísica e nada fez para sanar a deficiência e o erro prosseguiu com todas as consequências advindas do mesmo. Não havia qualquer explicação razoável para o comprometedor resultado verificado em Cabeceiras e pagaríamos caro por tal comportamento.
ÁREA DE RIACHÃO
1-RIA-1-BA
No pioneiro de Riachão, 1-RIA-1-BA, o embasamento fora previsto pela sísmica a 3.425m de profundidade, recomendando-se no prospecto uma sonda com capacidade de perfurar 4.000m. O embasamento foi encontrado a 2.846m, 581m ou mais de meio quilômetro acima do previsto sendo este mais um exemplo da impossibilidade dos interpretes geofísicos da sísmica distinguirem, pelo menos, o embasamento de rochas clásticas. Observar: em Cabeceiras, Capianga e Caboclo, o embasamento fora previsto raso e a sonda provou que naquela região, o embasamento continua desconhecido, pois nenhuma sondagem chegou até ele. No presente caso, o embasamento fora previsto fundo e ele apareceu raso. Veremos adiante vários desses casos, evidenciando o que queremos provar: a sísmica não funciona na previsão de estruturas na subsuperficie.
ÁREA DE CARDEAL DA SILVA
1-CDS-1-BA
O poço 1-CDS-1-BA é o pioneiro da área. É um prospecto da sísmica que testaria uma feição dômica no bloco alto da falha de Patioba próximo ao topo do Sergi. A profundidade final do poço foi prevista para 3.025m (-2.890m), cerca de 30m dentro do embasamento. A profundidade alcançada foi de 3.540m (-3.405m) dentro do que foi chamado de Aliança. Foram 515m ou mais de meio quilômetro de diferença, sem alcançar qualquer dos parâmetros previstos. Causa pasmo e admiração o relatório do grupo técnico que se reúne para apreciar os resultados do poço. Diz o relatório do grupo (documento da pasta do poço):
“A interpretação sísmica foi prejudicada devido ao espessamento dos conglomerados provenientes da borda leste, culminando com erro na previsão das unidades estratigráficas, as quais foram constatadas abaixo do previsto.”
Em Cabeceira foi o uso das velocidades que prejudicaram a previsão. Aqui é o espessamento dos conglomerados. Para simplificar pode-se resumir: os conglomerados não passam de subterfúgio tentando explicar o inexplicável. Os conglomerados prejudicaram a interpretação? Ora, os conglomerados são a característica textural mais importante, expressiva e óbvia da Bacia e estão lá desde que ela se formou. Se isso prejudica ou atrapalha as interpretações, há que mudar-se o método de investigação, pois é impossível retirar de lá os conglomerados.
ÁREA DE FAZENDA IMBÉ
1-FI-1-BA
O pioneiro da área, 1-FI-1-BA, é um prospecto de 1963 oriundo da sísmica que previra o Sergi a 2.200m de profundidade onde o poço deveria parar. Após a perfuração verificou-se que o Sergi fora omitido por uma falha (achada no perfil elétrico!) de 950m de rejeito, não detectada pela sísmica, passando o poço do Candeias para o Aliança fenômeno que já víramos acontecer em Capianga e Caboclo. O prospecto de Imbé tinha sido baseado na existência de um fantasma, pois o Sergi não estava lá para responder aos sinais da sísmica, mas, mesmo assim, foi achado. Segundo o geólogo do poço, o que estava presente no mesmo, era uma “falha”, a qual não fora detectada pelo interprete dos sinais sísmicos. Atira-se no que se vê e mata-se o que se não vê. O embasamento que não fora previsto, mas que deveria ser fundo (ao redor de 2.500m) foi encontrado a 1768m, ou 432m mais alto que a própria previsão do Sergi, mostrando a confusão interpretativa existente entre clásticos e embasamento. Quem poderá saber a que profundidade estará o embasamento! Em um dos relatórios, o geólogo que acompanhou o poço sugere que:
“…é preciso uma revisão dos dados sísmicos e gravimétricos. Os sísmicos pela não detecção das falhas e os gravimétricos posto que tinham condenado a locação colocando-a em um baixo.”
Era um poço com petróleo novo e isso era o que contava. Se ele tinha sido construído em completo desacordo com regras geológicas, pouco importava.
3-FI-8-BA
Na locação de 3-FI-8-BA o embasamento fora previsto pela sísmica aos 2.100m esperando-se um baixo onde estariam presentes o Sergi, o Itaparica e a Zona A.
A sonda perfurou até 2.484m, quase 400m fora da previsão, onde o embasamento foi encontrado, mas não houve sinal da Zona A nem do Itaparica e muito menos do Sergi. Outra vez não havia definição entre embasamento e sedimentos, e sem a presença dos conglomerados, ficou difícil explicar o resultado tão desajustado: a sísmica detectando o Sergi, mesmo sem estar na área. Para o pesquisador a conclusão é outra: com ou sem a presença dos conglomerados a sísmica não funciona.
3-FI-5-BA e 3-FI-10-BA
Ainda no mesmo campo de Imbé, já se havia furado o poço de número 3-FI-5-BA, o qual havia alcançado o embasamento aos 2.225m de profundidade. Em seguida foi furado o 3-FI-10-BA, segundo a sísmica, situado no mesmo bloco do 3-FI-5. De fato, os dois poços são separados por uma distância de 1.000m no terreno e os parâmetros deveriam ser os mesmos, inclusive a profundidade do embasamento.
O 3-FI-10 alcançou o embasamento a 2.978m, com uma diferença de 753m entre os dois parâmetros de subsuperfície nos dois poços, evidenciando que eles não estavam situados no mesmo bloco, ou seja, o bloco postulado também não existia. Ele foi inventado pelos técnicos da sísmica para justificar uma locação.
3-FI-13-BA
Ainda em Imbé o poço 3-FI-13-BA foi furado porque 3-FI-12 e 3-FI-8 eram portadores de óleo e
“…reinterpretações sísmicas recentes suportadas (sic) por dados de subsuperficie situam os subsequentes FI-8, FI-12 e FI-13, no mesmo bloco estrutural de forma triangular com mergulho NW estando o FI-13 numa posição intermediária entre o mais alto da estrutura (FI-8) e o mais baixo (FI-12).”
O esboço da primeira figura (prospecto) dá ideia do raciocínio do intérprete.
Foi designada para furar o poço, uma sonda com capacidade para perfurar 3.000m. O poço tem 3.088m de profundidade final. Esgotou e ultrapassou a sua capacidade de perfurar e ficou pendurada em sedimentos desconhecidos. O petróleo e o Sergi esperados, também, desapareceram.
Evidentemente não havia qualquer indício de realidade nos prognósticos da sísmica. As interpretações eram todas equivocadas. A segunda figura (perfuração) mostra o desastre que aconteceu naquele campo, devido à inadequação do método sísmico para fazer tal tipo de pesquisa e prognósticos.
ÁREA DE JACUÍPE
1-JAN-2-BA
Situada a leste da Bacia do Recôncavo. Entre outros poços foi furado o 1-JAN-2-BA proposto pela sísmica que deveria ter a sua profundidade final aos 2.600m no Ilhas inferior. O poço foi furado até 3.041m, 441m além do previsto, e ficou pendurado em sedimentos desconhecidos e indefinidos, por incapacidade mecânica de continuar perfurando. Quando o furo alcançou 3.018m, os comandos foram trocados por tubos de perfuração para a coluna ficar mais leve de maneira poder continuar-se o poço. Vinte e três metros mais profundo, aos 3041m deu-se o poço por terminado sem qualquer resultado, sendo tamponado e abandonado como seco e com vultosos prejuízos.
Na mesma área temos o 1-JAN-1-BA onde se lê no prospecto que:
“… as excelentes condições de trapeamento apresentadas na estrutura mapeada pela sísmica, levaram à locação do JAN-1.”
O Relatório final evidencia os mesmos problemas e um parágrafo sobre os resultados sísmicos onde se lê:
2)” Interpretações sísmicas postulavam para o JAN-1 um bloco baixo conforme ilustrado no mapa estrutural sísmico do topo do Ilhas inferior. Na realidade os resultados obtidos com a perfuração deste pioneiro revelaram um bloco alto contrariando aquelas interpretações”.
O poço foi revestido e testado, mas é seco e abandonado. As excelentes condições de trapeamento tinham sido inventadas. Não eram reais e a sonda provou isso.
ÁREA DE FAZENDA AZEVEDO
1-FA-1-BA
O primeiro poço do campo é o 1-FA-1-BA. A sísmica tinha indicado um alto anômalo do embasamento, coincidente com um alto gravimétrico. A profundidade final do poço seria de 1.892m, com 50m furados no embasamento, previsto para ser alcançado aos 1.842m. Os objetivos primários seriam as areias do Ilhas e Candeias.
A sonda furou até 2.335m – 493m além da previsão para o topo do embasamento e 135m além da capacidade de perfuração da sonda e ficou pendurado em sedimentos desconhecidos. A sonda escalada para fazer a perfuração tinha a capacidade para alcançar 2.200m e fora bem escolhida desde que o embasamento, segundo a previsão estaria a 1842m. O Sergi, que não fora previsto, apareceu. O embasamento que fora previsto desapareceu demonstrando que a Bacia do Recôncavo, continuava a ser um mistério total para os seus pesquisadores! Achar petróleo era fruto, nada mais do que do acaso e da sorte.
Ainda em Fazenda Azevedo há o poço 4-FAX-2-BA que furaria uma estrutura mapeada pela sísmica 2800m nordeste de FA-1. Tal estrutura seria 60m mais elevada que o topo do Sergi no FA-3 (2.313m). A profundidade final seria a 2.370m, com 80m dentro da formação Sergi.
Diz o prospecto:
“Esta locação, deverá substituir a locação sugerida pela DIVEX (Divisão de Exploração) no SP 9.7291 da 9-RL-324 em vista de que esta última cairia no lado baixo da falha de Fazenda Azevedo, e em situação desfavorável para o Sergi.”
A previsão do embasamento é da ordem de 2.640m. Furado o poço verificou-se que o Sergi estava a 2.657m onde era esperado o embasamento. O fundo do poço está a 2.737m pendurado em sedimentos desconhecidos e nem sinal do embasamento. O geólogo diz em seu relatório:
“Não se confirmou a previsão sísmica de ter topado a formação Sergi mais elevada que no FA-3.”
O que foi chamado de Sergi no poço foi encontrado 314m mais baixo que no poço da correlação e o embasamento sequer alcançado.
ÁREA DE FAZENDA MANGUEIRA
1-FM-1-BA
Em Fazenda Mangueira, 1-FM-1-BA, as previsões sísmicas para o embasamento eram da ordem de 3.600m. O poço furou até 4.704, 1.104m além da previsão sísmica, sem ter encontrado qualquer dos objetivos para que foi feito. O embasamento ficou fora da capacidade de perfuração da sonda no 14 (5.000m), ficando o poço pendurado em seção estratigráfica desconhecida. De novo os técnicos da sísmica apresentaram outra justificativa sobre como aconteceu tamanho erro, mas, certamente nao se podia fazer nada sobre um problema desconhecido. Ao tempo da perfuração de Fazenda Mangueira, o próprio método era novidade. Fazenda Mangueira foi furado em 1964, quando os progressos da técnica sismológica – excelentes para à época – eram acanhados em relação aos atuais. Vejamos um poço onde as técnicas modernas de obtenção de informações da subsuperficie já são da era da eletrônica, da informática, dos semicondutores e dos computadores.
ÁREA DE BARAÚNA
1-BRN-1-BA
Este poço é um prospecto de 1982 e fica na Bacia de Tucano. O mapa de referência é o mapa estrutural sísmico ao nível do arenito com gás do 1-LB-1-BA.
Diz o prospecto:
“Justificativas Estruturais: A locação situa-se ao nível do arenito com gás do 1-LB-1-BA, em uma estrutura dômica no primeiro degrau da falha de Inhambupe em um bloco alto em relação ao da estrutura do 1-IN-1-BA e cerca de 900m mais elevada. As seções sísmicas da área são de boa qualidade e asseguram o fechamento por mergulho em todas as direções. Apenas na direção ESE o controle é precário e o fechamento se daria, em parte, contra o embasamento do bloco alto da Falha de Inhambupe.”
Os objetivos principais seriam Arenitos da Fm. Candeias, Arenito Sergi e Arenito Boipeba, enquanto os secundários seriam os arenitos do Grupo Ilhas. A profundidade final prevista é de -5.100 (30m dentro do Pré-cambriano Fm. Estância). A sonda encarregada do trabalho foi a BO-2-Brasoil com capacidade de perfurar 6.000m, e o estado final do poço é: tamponado e abandonado como seco. A profundidade atingida foi 4.995m ou praticamente 5.000m.
A estratigrafia prevista mencionava as formações tradicionais (Candeias, Sergi, Aliança etc.). Depois da perfuração a estratigrafia resumiu-se à formação Marizal sobre o grupo Massacará que por sua vez fica sobre a formação Salvador, um surrealismo geológico dos mais extraordinários. Ao final da perfuração, como a estratigrafia prognosticada não tivesse sido constatada, a sísmica, para justificar-se tomou uma das mais inusitadas atitudes técnicas: para estabelecer seus parâmetros apoiou-se no problemático zoneamento fossilífero cujos resultados eram e são tão errados e irreais como os da própria sísmica.
“Devido a ausência de marcos litológicos típicos, utilizou-se o zoneamento fossilífero constatado para estabelecer o posicionamento estrutural deste poço em relação ao 1-IN-1-BA. Devido a melhor resolução da seção sísmica 65-RL-031 que está a 1 km e paralelamente a seção 65-RL-069 que passa pelo poço, foram plotadas as constatações paleontológicas, em profundidade, com base no TTI etc. etc. etc.”
Os fósseis se comportam aqui, exatamente como no restante da Bacia: totalmente misturados e a ajuda que podia oferecer, atrapalha mais ainda. Nesta locação especificamente, o relatório da Paleontologia na pasta do poço, diz:
“A perfuração atingiu sedimentos provavelmente pertencentes ao Andar Jiquiá a 2310m, Andar Buracica a 2490m e ao Andar Aratu a 3390m.”
Observa-se ainda que o Sumário Biocronoestratigráfico do poço, exibe mais pontos de interrogação do que dados definitivos. O primeiro parágrafo informa que algumas biozonas estão ausentes. O segundo diz que vários e grandes intervalos sem fósseis, com fósseis indeterminados… devido talvez aos conglomerados. No terceiro parágrafo afirma-se:
“Os limites dos andares presentes no poço são muito problemáticos, devido ao fato acima mencionado” (os conglomerados).
Mas, mesmo assim, os intérpretes da sísmica aproveitaram as precárias informações paleontológicas para… Impossível imaginar para que!
Antes da perfuração do poço afirma-se que, as seções sísmicas são de boa qualidade… No relatório final do poço, entre outras contradições, lê-se:
“As seções sísmicas não possuem a mesma resolução devido aos conglomerados que devem ter sido responsáveis pela não continuidade lateral dos refletores.”
Outra vez os conglomerados seriam os culpados e (incrível que pareça) os responsáveis (sic), pela indefinição estratigráfica.
Para não tornar tediosa a leitura deste trabalho não citaremos mais exemplos. Eles podem ser examinados aos milhares nos arquivos técnicos da Estatal. Entretanto, tanto quanto se pode observar, a obtenção, interpretação e resultados dos trabalhos sísmicos são precários, tanto antigamente como modernamente, tanto ao norte como no sul, tanto a leste como no oeste da Bacia. Vez por outra, por golpes de sorte, consegue-se até achar petróleo novo. Entretanto, a continuação da pesquisa pela maneira errada como vem acontecendo, certamente, a Bacia do Recôncavo terá de ser abandonada como antieconômica, pois está nesta direção e em rampa de descida.
Vale frisar que os exemplos acima citados não foram escolhidos para figurarem aqui. O fenômeno acontece em todos, absolutamente todos os poços da Bacia, o que nos leva à conclusão: os instrumentos geofísicos, sofisticados que sejam, são inadequados à pesquisa geológica.
Com eles encontra-se o que se quiser, inclusive formações inexistentes, contatos inexistentes, falhas inexistentes e outras estruturas também inexistentes, até que a prática das perfurações demonstre essa inexistência. Somente o corporativismo existente dentro do Departamento de Exploração, exercido especialmente pelos técnicos provenientes da área da Geofísica, pode explicar que, tantos erros nunca provocaram pelo menos a curiosidade de outros técnicos.
Em outras palavras, nem a paleontologia pode determinar e datar os sedimentos estudando fósseis nem a geofísica pode determinar as “estruturas”, contatos, espessura e outros parâmetros em subsuperficie, e nem os perfis elétricos têm alguma chance de mostrar onde ocorre ou deixa de ocorrer o petróleo. No primeiro caso, porque os fósseis estão misturados, no segundo, porque as estruturas postuladas não existem na subsuperficie da Bacia e, no terceiro, porque não há correlação entre a engenharia, os perfis e a gênese dos sedimentos da bacia.
Ainda hoje, continua-se a trabalhar da mesma maneira, dilapidando fortunas quase no limite da loucura técnica, trabalho esse que levará ao abandono da Bacia e todo o petróleo que ela contém.
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