Novo Currículo
Para um Curso de Geologia

Até o meio do século passado não existiam cursos de Geologia no Brasil. A escola de Minas e Metalurgia de Ouro Preto, hoje Universidade Federal de Ouro Preto, formava engenheiros de minas e aqueles, por necessidade, foram adaptados aos serviços da Geologia, especialmente para servir à Petrobras que dava os seus primeiros passos no caminho da pesquisa de petróleo.

A estatal do petróleo crescia e necessitava de mais técnicos para o seu serviço, e o leque na busca da formação de geólogos foi ampliada. Vieram técnicos de outras áreas para cursos de adaptação ao currículo geológico. Muitos engenheiros de minas e civis foram mandados aos Estados Unidos para cursos adaptativos e posteriormente foram trazidos os professores daquele país para fazerem escola aqui no Brasil. Os professores americanos fizeram um grande trabalho formando um bom número de geólogos.

Desse ponto em diante, nos anos da década de 50/60, os brasileiros tomaram conta da tarefa de trabalhar e ensinar o que aprenderam com eles sobre assuntos da Geologia. Assim, pode-se dizer que a escola brasileira de Geologia é um segmento da escola americana. Não só a Geologia, mas toda a indústria de petróleo brasileiro é um segmento da escola americana. A perfuração dos poços, os testes de formação, as perfilagens, os cursos especializados para que pudesse dar conta da indústria do petróleo no Brasil foram e ainda são um espelho da escola americana, pois eram americanos que manejavam as ferramentas nos primeiros anos da existência da Petrobras. O problema brasileiro surgiria neste ponto: os próprios americanos, e de resto todo mundo, tinha dificuldade no método a ser empregado no estudo da Terra e na busca do petróleo. A situação técnica gerou uma situação política: seriam os americanos uns sabotadores interessados em nos manter dependentes da importação do petróleo que eles pensavam ter o monopólio?

Os americanos fecharam essa fase com um relatório que também gerou polemica e que ficou conhecido como “Relatório Link”. Ao fracasso dos americanos seguiu-se o fracasso dos brasileiros. Abriu-se o monopólio (1977, governo Geisel) e vieram mais companhias, e todas se retiraram sem conseguir nada. Em 1997, governo de F.H. Cardoso, de novo volta-se a quebrar o monopólio do estado sobre a indústria do petróleo na esperança de que as gigantes internacionais “descobrissem” o petróleo brasileiro. De novo não deu certo. Todas as companhias que tentaram a sorte, voltaram continuando o drama de encontrar petróleo no Brasil para as calendas gregas pois não havia um roteiro geológico correto para as condições tectônicas do Brasil.

Faltavam definições, faltava coerência nos discursos e os congressos se sucederam desde 1878 quando foi convocado pela primeira vez sem render nada, como não rendem ainda hoje, na elucidação de problemas geológicos. Não havia explicação coerente para nenhum problema: montanhas e bacias, terremotos e tsunamis, vulcões, petróleo eram mistérios insondáveis. Para fazer mapas eram usadas pranchetas, alidades, barômetros, bússolas, que naquele tempo era a melhor técnica, e as melhores ferramentas que existiam para tentar desvendar os mistérios da Geologia: as imagens de radar, os melhores instrumentos para mapeamentos aparecidos nos anos 70 restaram inaproveitadas.

Com tais limitações foram criados os currículos dos diversos cursos de Geologia que existem no Brasil. Aos primeiros problemas do ensino, foram acrescentados muitos outros e ele ficou distorcido até a balbúrdia total.

Ver nos endereços abaixo o que queremos dizer na prática:

www.igc.usp.br
www.igeo.ufba.br
www.proacad.ufpe.br
www.ufrgs.br/geociencias
www.unb.br.ig/
www.ige.unicamp.br​

Neles podem ser vistos diversos currículos ensinados nas principais universidades dos estados da Federação com o título de Geologia, quando se sente a dificuldade, tanto para o ensino, como para o aprendizado. Se considerarmos o da USP como dos melhores cursos sobre o que é ensinado com o nome de geologia, tome conhecimento do que se ensina naquela, e em outras universidades, para saber o motivo de não temos geólogos nem ensino da Geologia.

Explica-se essa miscelânea de conhecimentos desordenados pela origem do trabalho na busca de riquezas, que era feito pelos pioneiros que se dedicavam, e ainda se dedicam, a procurar os bens minerais diretamente expostos à visão humana. Essa nobre profissão tem nome, chama-se garimpagem e seu profissional é o garimpeiro e não existem cursos para formá-los. Eles nascem garimpeiros.

Os cursos citados são da mesma ciência, mas são poucas as semelhanças entre eles. Provavelmente, depois de diplomado um geólogo pernambucano não entenderá o seu colega carioca, e o paulista não poderá conversar com o baiano. Um geólogo é um profissional treinado para fazer mapas das rochas que formam a litosfera, ou seja, reduzir ao papel a natureza das rochas no campo. Procurar minas e minerais é uma consequência, posterior ao mapeamento. Dessa forma temos três conceitos que precisam ser firmados:

Geologia: é o estudo do planeta Terra, que é feito construindo mapas das formações geológicas que ocorrem no campo e formam a litosfera, com o auxílio da estratigrafia.
Geólogo: profissional que estuda o globo terrestre utilizando a estratigrafia como ciência de execução de mapas geológicos.
Garimpeiro: profissional que procura minas e minerais, aleatoriamente, sem a necessidade de mapas.

Neste documento apresentamos uma alternativa para ser ensinada com ênfase nos problemas de treinamento no campo, para formar geólogos que possam falar a mesma linguagem e solucionar problemas de economia, história geológica e especialmente sobre problemas econômicos de energia e pesquisa de petróleo. Observar o abandono das ciências matemáticas, desenho e outras matérias sem relação com a Geologia.

A grande novidade está no fato de ter sido identificada em 1986 a unidade básica dos mapeamentos geológicos, ou seja, o objeto natural que deve ser mapeado no campo para que se possa entender a evolução ou a história do planeta Terra. Há um método definido para o estudo da Terra: o método estratigráfico. O método somente pode ser aprendido no campo que é o laboratório natural da Geologia, sendo assim, sobre a base firme da análise estratigráfica e a determinação do mecanismo genético de cada fenômeno e o seu encadeamento com os outros, anteriores e posteriores, têm os geólogos a chave para desvendar os segredos da Terra e a exploração das suas riquezas.

Na base desta idéia há a necessidade de repensar-se o currículo para ensino da Geologia, de maneira que a ciência tome uma forma essencialmente coerente e sem dificuldade para entender-se a mesma.

O curso de Geologia atualmente ensinado nas universidades precisa ser mudado, e esta é a nossa contribuição. Seu roteiro geral tem a estrutura que segue abaixo, com a finalidade de mostrar que a Geologia só pode ser entendida, completamente, se estudada como um todo, indivisível, no campo. A prática do ensino deverá modificá-lo para melhor.

1. HISTÓRIA DA CIÊNCIA GEOLÓGICA
   1.1 – ANTIGUIDADE: OS GRANDES PENSADORES
   1.2 – FORMA – TAMANHO E MATÉRIA PRIMA DA TERRA
   1.3 – SISTEMAS GEOCÊNTRICO E HELIOCÊNTRICO
   1.4 – POSIÇÃO DA TERRA NO SISTEMA SOLAR
 1.5 – RENASCENÇA O PAPEL DA IGREJA E DAS RELIGIÕES. COPÉRNICO, KEPLER, NEWTON E GALILEU:
   1.6 – ASTRONOMIA
   1.7 – O TELESCÓPIO
   1.8 – A PALEONTOLOGIA
   1.9 – TAXONOMIA CIENTÍFICA
   1.10 – CITOLOGIA
   1.11 – O MICROSCÓPIO
   1.12 – A IMPRENSA 
   1.13 – SENSORES – AS IMAGENS E FOTOGRAFIAS
   1.14 – AS LEIS DA SEDIMENTAÇÃO
   1.15 – A FOTOSSÍNTESE

2  O SISTEMA PLANETÁRIO
   2.1 – GENERALIDADES
   2.2 – MECÂNICA CELESTE
   2.3 – RELAÇÃO SOL/TERRA​

3  O SOL
   3.1 – ESTRUTURA E MECÂNICA DO SOL
   3.2 – FUNCIONAMENTO DO SOL, DA TERRA DOS PLANETAS E ESTRELAS​

4  A TERRA
   4.1 – ESTRUTURA ESTÁTICA
   4.2 – DIMENSÕES E PRINCIPAIS MEDIDAS
   4.3 – ENERGIA
   4.4 – ORIGEM E MECANISMO DA ENERGIA INTERIOR E EXTERIOR
   4.5 – TECTÔNICA – FUNCIONAMENTO DA ESTRUTURA DO GLOBO
      4.5.1 – DINÂMICA INTERIOR – CONVECÇÃO – FUNCIONAMENTO INTERNO DO GLOBO
          4.5.1.1 – CÉLULAS CONVECTIVAS: ESTRUTURA E MECÂNICA DE FUNCIONAMENTO
          4.5.1.2 – MOVIMENTOS VERTICAIS E HORIZONTAIS – VULCANISMO
          4.5.1.3 – MONTANHAS; ABISMOS; BACIAS; ORIGEM; AMBIENTE
          4.5.1.4 – ESTRUTURAÇÃO E COMPOSIÇÃO MINERAL DA CROSTA
      4.5.2 – DINÂMICA EXTERIOR
          4.5.2.1 – ATMOSFERA – MECANISMO E FUNCIONAMENTO
          4.5.2.2 – CLIMAS – CAUSAS E EFEITOS
          4.5.2.3 – MECANISMO E FUNCIONAMENTO DA HIDROSFERA
          4.5.2.4 – MARÉS – ONDAS E CORRENTES – CAUSAS E EFEITOS
      4.5.3 – MECANISMOS E FUNCIONAMENTO DA LITOSFERA
          4.5.3.1 – EVIDÊNCIAS- CAUSAS E EFEITOS
      4.5.4 – PRESSÃO ATMOSFÉRICA
      4.5.5 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA ATMOSFERA​

5  MOVIMENTOS DA TERRA
   5.1 – NO SISTEMA PLANETÁRIO
   5.2 – NA GALÁXIA
   5.3 – NA LITOSFERA
   5.4 – INTERNOS: GÊNESE

6  TEMPO
    6.1 – TEMPO HUMANO: UNIDADES DE TEMPO: SEGUNDO, MINUTO, HORA, DIA, ANO, MEDIDAS
    6.2 – TEMPO GEOLÓGICO: FORMAÇÕES ERAS E PERÍODOS
    6.3 – RELAÇÃO TEMPO GEOLÓGICO/TEMPO HUMANO

7   FUNDAMENTOS DA GEOLOGIA
   7.1 – MAPAS
   7.2 – FORMAÇÃO GEOLÓGICA
   7.3 – LEIS DA SEDIMENTAÇÃO
   7.4 – LEI DA SUCESSÃO FAUNAL
   7.5 – NÍVEL DE BASE
   7.6 – AMBIENTES DE SEDIMENTAÇÃO
   7.7 – UNIFORMISMO
   7.8 – LITOLOGIA
   7.9 – CORRELAÇÃO
   7.10 – METAMORFISMO
   7.11 -ESCALAS

8  PROCESSOS DE SEDIMENTAÇÃO
   8.1 – A ATMOSFERA
   8.2 – CICLO DA ÁGUA
   8.3 – SOLOS
   8.4 – SEDIMENTOS
   8.5 – EROSÃO
   8.6 – TRANSPORTE
   8.7 – ESPALHAMENTO
   8.8 – SEDIMENTAÇÃO
   8.9 – DIAGÊNESE​

9  BACIAS DE SEDIMENTAÇÃO E PRODUTOS DA SEDIMENTAÇÃO
   9.1 – SIGNIFICADO GEOLÓGICO

10  A LITOSFERA – AS FORMAÇÕES GEOLÓGICAS
   10.1 – TEMPO GEOLÓGICO

11  TEXTURA
   11.1 – TAMANHO
   11.2 – ARREDONDAMENTO
   11.3 – ESFERICIDADE
   11.4 – COR
   11.5 – POROSIDADE
   11.6 – PERMEABILIDADE

12  ESTRUTURAS
   12.1 – INTERNAS
   12.2 – EXTERNAS
   12.3 – SIGNIFICADO GEOLÓGICA

13  MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO GEOLÓGICA
   13.1 – EM SUPERFÍCIE
      13.1.1 – O MAPEAMENTO REGIONAL
      13.1.2 – O MAPEAMENTO DETALHADO
   13.2 – EM SUB SUPERFÍCIE
      13.2.1 – PERFIS ELÉTRICOS INDUTIVOS E MAGNÉTICOS
      13.2.2 – SÍSMICA
      13.2.3 – GRAVIMETRIA
      13.2.4 – PALEONTOLOGIA
      13.2.5 – PERFURAÇÃO DA CROSTA – POÇOS

14  CÓDIGO DE NOMENCLATURA ESTRATIGRÁFICA
   14.1 – INTRODUÇÃO
   14.2 – O NOVO CÓDIGO
      14.2.1 – AS FORMAÇÕES AS ERAS E OS PERÍODOS

15  A ENERGIA
   15.1 – ORIGEM E FEITOS
   15.2 – O CICLO DA ENERGIA
   15.3 – ORIGEM DA VIDA
      15.3.1 – OS FATORES VITAIS E SUA VARIAÇÃO
      15.3.2 – A SEDIMENTAÇÃO DA ATMOSFERA – MECANISMO
      15.3.3 – ORIGEM E FIM DAS ESPÉCIES
   15.4 – ORIGEM DO PETRÓLEO​

16  HISTÓRIA GEOLÓGICA
   16.1 – EVOLUÇÃO DA TERRA AO LONGO DO TEMPO
   16.2 – EVIDÊNCIAS

17  ASTRONOMIA: ASTROFÍSICA E GEOLOGIA – CONTESTAÇÕES
   17.1 – SÓS OU ACOMPANHADOS?
   17.2 – O TEMPO
   17.3 – COMBUSTÍVEL DO SOL E DAS ESTRELAS
   17.4 – GÊNESE SEGUNDO A ASTROFÍSICA
   17.5 – O MODELO GEOLÓGICO
   17.6 – O TEMPO E A HUMANIDADE
   17.7 – A INTERPRETAÇÃO GEOLÓGICA DOS FATOS
   17.8 – CLASSIFICAÇÃO DAS FORÇAS DA NATUREZA
   17.9 – ESTRUTURA DA TERRA
      17.9.1 – O NÚCLEO
      17.9.2 – O MANTO
      17.9.3 – A LITOSFERA
      17.9.4 – A ATMOSFERA​

18  RECURSOS DA CROSTA TERRESTRE
   18.1 – RECURSOS ORGÂNICOS – PETRÓLEO, CARVÃO, TURFA E FLORESTAS
   18.2 – RECURSOS INORGÂNICOS – MINÉRIOS E MINERAIS

Ainda não ha experiência sobre o tempo necessário para ministrar um curso como o proposto acima. Também não ha professores com experiência necessária para desenvolver os assuntos deste currículo geológico, disso se depreende que há que treinar um grupo inicial para aumentar o número dos que possam passar adiante as novas características da Geologia.

A supressão de diversas matérias ensinadas no currículo atual (matemática, desenho, paleontologia, petrografia, pedologia, etc.), permite encurtar o tempo do curso facilitando assim um maior número de técnicos em menor espaço de tempo. Ter em conta que o objeto da pesquisa é de âmbito global, independendo de fronteiras geográficas.