Perfis Elétricos na Prática

GENERALIDADES

Após a construção de um poço de petróleo ele precisa ser mapeado. De fato, é o trabalho que completa o mapeamento das duas dimensões da superfície, e entre os instrumentos de maior uso para conseguir este objetivo conta-se o perfil elétrico. É uma ferramenta que, descida ao fundo do poço, é tracionada para a superfície pesquisando eletricamente as diversas camadas de que se compõe a rocha. As leituras feitas pelo instrumento vão sendo registradas em papel, que mais tarde serão interpretadas pelos geólogos e engenheiros com diversas finalidades, inclusive a descoberta de novos reservatórios de petróleo.

Quando se conhece a gênese ou a evolução histórica da Bacia, as interpretações que se fazem a partir dos resultados obtidos com esse instrumento podem ser consideradas razoáveis. Quando ela é totalmente desconhecida, como é o caso da Bacia do Recôncavo, não há como fazer funcionar os instrumentos, as interpretações se tornam tendenciosas e equivocadas, gerando prejuízos muito grandes com a perda de reservatórios e muito petróleo.

Usa-se o perfil de várias maneiras e no campo da pesquisa são três as finalidades principais: descobrir onde está o óleo na subsuperfície, mostrar onde ficam os contatos entre as diversas formações geológicas e determinar algumas estruturas da 3ª dimensão. Vimos nos arquivos anteriores que os fósseis estão misturados caoticamente dentro da bacia e que por isso não existem compatibilidades entre os prognósticos e a realidade das perfurações. Dentro de formações antigas ocorrem fósseis característicos de formações mais jovens, configurando um erro crasso da equipe de exploração que precisa ser corrigido.

Crê-se, de modo geral, que as altas resistividades registradas nos perfis de indução estão ligadas a ocorrência de petróleo. Examina-se o perfil e diz-se se existem intervalos que podem ou não produzir hidrocarbonetos. A título de esclarecimento vale assinalar que, em um reservatório de subsuperfície só existem duas substâncias fluidas: água ou hidrocarbonetos. A água pode ser doce ou salgada. Geralmente as águas doces são mais superficiais e naturalmente tem alta resistividade, ficando as salgadas mais profundas na Bacia e tem baixa resistividade. Os hidrocarbonetos têm alta resistividade. Desse contraste deduz-se onde os hidrocarbonetos podem estar acumulados, que são em seguida testados. Evidentemente, quando os perfis se apresentam com altas resistividades nas partes profundas da Bacia, desconfia-se da ocorrência de petróleo. Os intervalos resistivos são então recomendados para testes de formação. Se o poço ainda está sendo perfurado, o teste é feito a poço aberto com a ferramenta testadora ancorada nas paredes ou, no fundo do poço. Às vezes as condições mecânicas do poço não permitem tais testes, e é preciso revesti-lo com tubos de aço para que os testes possam ser realizados. A segunda condição é muito mais onerosa que a primeira, por essa razão procura-se testar os intervalos potencialmente produtores logo que penetrados pela broca.

As companhias que vendem os perfis elétricos, se incumbem de ministrar aos geólogos, cursos sobre o seu funcionamento e operação, por professores, que não tem qualquer conhecimento da geologia da bacia onde vão operar.. Dessa maneira eles admitem possibilidades absolutamente sonhadoras para aqueles instrumentos, distorcendo tudo. Sumariamente, eles invertem a ordem natural das coisas quando conferem aos perfis propriedades impossíveis de serem obtidas com aquela ferramenta. Enquanto as coisas ficam no terreno da teoria não há o que comentar. Entretanto, vejamos exemplos factuais, claros, passados na Bacia do Recôncavo, dos prejuízos da aplicação indiscriminada dos perfis na exploração. Algumas vezes descobre-se petróleo, fato que justifica o uso do perfil elétrico para a finalidade. Entretanto há uma quantidade enorme de petróleo deixado nos seus reservatórios apenas porque os perfis indicam “zona sem interesse para hidrocarbonetos.” Vejamos alguns exemplos desses fatos existentes na Bacia.

CAMPO DE CONCEIÇÃO

Este campo fica ao sul da Bacia de Tucano. Aí foi construído o poço 3-CON-4-BA onde, após a perfilagem, verificou-se uma zona potencialmente interessante para hidrocarbonetos no intervalo 1510-1525m que os geólogos, durante a perfuração, teriam passado sem testar. Após uma semana de caríssimos e custosos trabalhos de perfilagem, canhoneio, etc. foi realizado o Teste de Formação nº 8, o qual mostrou que o intervalo “interessante para petróleo”, era realmente portador de água doce naquele intervalo. Produziu 81 barris de água em 90 minutos de fluxo.

ÁREA DE LAGOA DO PAULO

Em Lagoa do Paulo, no poço 3-LPN-2-BA, após a corrida e análise dos perfis, foram determinados três corpos arenosos que, pelos cálculos, certamente seriam três reservatórios de hidrocarbonetos. Foram realizados três testes seletivos que mostraram três intervalos produtores de água salgada sem qualquer indício de petróleo. Observação pertinente: Em Conceição a água produzida era doce, em Lagoa do Paulo, salgada. Em ambas se supunha petróleo.

ÁREA DE BOIPEBA

No pioneiro de Boipeba, 1-BP-1-BA, fez-se a completação na Zona A porque os cálculos dos perfis indicavam boa porosidade e regular saturação de hidrocarbonetos. O poço, durante os testes, somente produziu água salgada. Como as características do perfil indicavam petróleo, supôs-se que fosse um caso de engenharia e que a água teria sido produzida de outro reservatório por má cimentação. A sonda foi trazida de volta a locação, o poço foi reaberto, furados os tampões, corrigida a cimentação e o intervalo foi retestado. Continuou produzindo apenas água salgada, a custos incrivelmente altos.

ÁREA DE TAQUÍPE

Em Taquípe houve caso semelhante: no poço 105, estudados os perfis, revelou-se determinado intervalo com baixa saturação de água. A essa altura a sonda já tinha sido desmontada e transportada para outra locação. Foi trazida de volta para a boca do poço, remontada, furados os tampões e feitos o teste que revelaram mais um reservatório produtor de água salgada.

CAMPO DE ARAÇÁS

Na região furou-se uma série de doze poços, todos com prospecto para a formação Sergi, que deveria estar abaixo dos 3.000m de profundidade. Entre esses doze poços o 7-AR-9-BA também foi julgado seco, e por isso abandonado. Tempos depois, o funcionário encarregado do campo, notou que pelo revestimento do poço estava saindo um filete de petróleo. Colheu uma amostra e mandou-a ao laboratório para exame. O exame revelou que o óleo era bom e, pelas suas características, de horizonte raso. Os perfis foram estudados a exaustão, inclusive pelos próprios técnicos da companhia contratista, sem que alguém pudesse dizer que intervalo da subsuperfície poderia produzir o petróleo que estava minando do poço. No poço 3-AR-12-BA da série, o geólogo, em seu relatório de completação, diante do insucesso das perfurações em Araçás, recomendou que se fizesse uma parada nas perfurações para reestudo do campo. Apenas a insistência dos engenheiros levou a que se continuasse as perfurações que acabaram por descobrir por inteiro o Campo de Araçás, produtor nos horizontes rasos, chamado de “formação” Ilhas. Até hoje não se sabe de onde vem o óleo do poço.

Ainda no Campo de Araçás, num poço que seria furado para injeção de água, revelou-se produtor de óleo! Trata-se do poço 8-AR-97, cuja finalidade seria a injeção de água no Arenito Santiago do Campo de Araçás. Os dados para perfuração, entre outras informações, dizem que os parâmetros de subsuperfície serão os seguintes:

Topo do Arenito Santiago………..-1120m (c/água)
Topo do Arenito Araçás…………..-1235m (c/água)
Topo do S. Paulo/Catu……………-1310m (c/água)
Profundidade final………………….-1360m ou 50m abaixo do topo do S.Paulo/Catu.

No relatório dos geólogos que acompanharam o poço lê-se:

Este poço inicialmente destinado a injeção de água, revelou-se portador de óleo no Arenito Santiago, devendo ser revestido para teste de produção.”

Em rádio para o Rio de Janeiro informou-se que o poço tinha sido concluído, o Arenito Santiago tinha 18m de arenitos permeáveis com óleo e que:

“…o poço resultou 40m mais alto que o previsto, indicando a inexistência de falha a oeste nos mapas que orientam o plano de injeção de água.”

ÁREA DE CALDEIRÃO

Este pioneiro, 1-CAL-1-BA, situado 5,5km a leste de Cabeceiras, teve um prospecto original que posteriormente foi modificado para dirimir dúvidas sobre a estratigrafia da área. Aos 3.439m o poço, que iria até o embasamento, teve a sua perfuração e finalidade estratigráfica interrompidas, pois os perfis indicavam um “…novo Araçás…”, ou seja, muito petróleo, como indicavam os cálculos feitos sobre os perfis elétricos corridos naquele pioneiro.

O poço teve de ser completado em caríssima operação e, realizados os testes nos intervalos com óleo, revelou-se produtor de água salgada ou salmoura de 231.500 mg/l de NaCl. Nem petróleo, nem estratigrafia, evidenciando apenas o grau de desconhecimento da Bacia.

CAMPO DE BOA ESPERANÇA

No poço 3-BE-5-BA, da sequência dos poços furados neste campo, imediatamente a sudoeste de Araçás, foi feito um teste de formação para fornecer dados para o mapa da superfície potenciométrica da região. Esperava-se a produção de água salgada, pois, o intervalo onde o teste seria feito foi testemunhado, e o testemunho revelou um altíssimo teor salino, não somente à visão, mas também ao sabor. Corridos os perfis elétricos, o intervalo mostrou-se com alta saturação de água e por isso pouco resistivo. O teste tomou o número 3 e foi realizado no intervalo entre 2421-2446m. Aberta a válvula da ferramenta testadora, aos 17 minutos, jorrou petróleo puro, pegando todos de surpresa.

ÁREA DE SAUÍPE

Prospecto da sísmica 1-SE-1-BA. Prevê-se a coluna estratigráfica normal da Bacia com a profundidade final do poço a 1.850m dentro do Sergi, que seria encontrado a 1.800m e a Zona “A” a 1.736m.

O poço foi se aprofundando em virtude da desorientação geral sobre a estratigrafia da locação e provavelmente seria limitado apenas pela capacidade de perfuração da sonda.

A 1.913m aconteceu um acidente no poço: a ferramenta do deep-meter caiu ao fundo do mesmo. Após 20 dias de pescaria, surgiu óleo no fundo do poço e a areia transformou-se em Zona “A”. Decidiu-se ir mais fundo para apanhar o Sergi que, segundo a suposição dos geólogos, teria mais petróleo ainda. Trocou-se a coluna de perfuração por uma mais leve e prosseguiu-se o furo. O Sergi foi atingido aos 1.958m e o teste realizado revelou 1.510m de coluna com água salgada. O petróleo apareceu onde não era esperado, e onde era, revelou-se um reservatório com água salgada. E mais, se o poço cumprisse o programa do prospecto, aquele petróleo jamais seria descoberto. Uma feliz pescaria resultou em mais um campo de petróleo.

ÁREA DE MIRANGA

Outro caso interessante sobre descoberta de óleo por golpe de sorte e interpretações amadorísticas sobre os perfis elétricos, passou-se em Miranga Leste, precisamente em 4-MGL-1-BA. Em reunião técnica para apreciação da locação, todos os responsáveis pela aprovação do poço votaram contra a sua perfuração, achando que era impossível encontrar petróleo 200m abaixo do contato óleo-água do campo.

Somente os representantes da sísmica e da gravimetria foram a favor da perfuração do poço. Fura-se o prospecto, o qual se apresenta com as mesmas características dos outros poços da região, inclusive com a mesma mistura de fósseis já observada anteriormente, mas com petróleo revelado por teste de formação, contrariando a opinião dos responsáveis pela exploração da Bacia. Como consequência desse achado fortuito, e entusiasmados com o óleo aparecido, manda-se furar o 3-MGL-3-BA a fim de:

…verificar para leste a extensão da descoberta de óleo do MGL-1.

O resultado do poço é: seco e abandonado. Atira-se no que se vê, e mata-se o que se não vê. No primeiro poço, todos são contra a perfuração da locação e o poço dá petróleo. No segundo poço, todos são a favor, mas o poço é seco e abandonado…

Ora, se todos os métodos de pesquisa (paleontológicos, sísmico, gravimétricos e elétricos) falham na Bacia do Recôncavo, a descoberta do petróleo nesta Bacia só pode ser decorrente da decisão de furar-se um poço, e… de muita sorte como vimos acima. Isso não é um método científico de pesquisar petróleo.

A INEFICIÊNCIA DOS MÉTODOS DE PESQUISA EXPLORATÓRIA NA PESQUISA DE PETRÓLEO

A conclusão que se faz do estudo estatístico de centenas de poços construídos na Bacia do Recôncavo é que nao há uma maneira, um método ou uma teoria entre todas as conhecidas e empregadas naquela bacia, que possa se dizer capaz de descobrir ou indicar a ocorrência de petróleo na subsuperfíicie. Os principais defeitos dos métodos são:

1. O mapeamento da superfície foi feito erradamente pelos motivos listados anteriormente, sendo o principal a deformada definição estratigráfica deixada pelos pioneiros do estudo da Bacia, e a confirmação da mesma pela pesquisa paleontológica

2. A geofísica porque continua a procurar “estruturas falhadas”, altos e baixos, “horts” e anticlinais que perfazem um grupo de ideias muito antigas, que não tem mais lugar na pesquisa de hidrocarbonetos. Todo o petróleo existente na Bacia é de origem estratigráfica, isto é, independe de estruturas como falhamentos, altos, baixos etc. Os interpretes dos sinais sísmicos, sem conhecer a origem da Bacia, raciocinavam em termos diverso da geologia histórica que deu origem a mesma, com o insucesso conhecido. Pior dos defeitos interpretativos era determinar “formações” que não existiam, seus contatos, espessuras, confundir sedimentos com o seu embasamento e vice-versa, altos e baixos inexistentes etc. Ainda mais, a experimentação original dos aparelhos geofísicos foi feita, e seus resultados testados, em bacias geneticamente diferentes do Recôncavo. Além disso, as bacias onde os aparelhos foram testados sempre foram muito prolíficas em petróleo o que mascara a eficiência do método para melhor, diante da abundancia de hidrocarbonetos. Tais condições não existem no Recôncavo.

3. O mesmo raciocínio é feito em relação aos perfis elétricos. A Bacia do Recôncavo tem sedimentação absolutamente singular e a experimentação do aparelho foi feita em bacias de origem completamente diversa das bacias brasileiras. Em outras palavras, as companhias que vendem os aparelhos e as técnicas usadas neles, não se responsabilizam pelo sucesso ou insucesso das pesquisas feitas com o mesmo, e nisso são muito claras avisando os seus clientes sobre o assunto . Em resumo, as evidencias de petróleo mostradas em perfis elétricos podem coincidir ou não com a ocorrência factual dos hidrocarbonetos no intervalo testado. Se coincidem e descobre-se um reservatório é sorte do pesquisador e do fabricante do aparelho. No outro caso, isto é, se não coincide, o azar é da nação inteira que perde o petróleo em seu reservatório abandonando-o como “sem interesse para produção.”.

4.Lembrar que, desde 1974, quando foi liberado para as companhias particulares, nacionais e estrangeiras, a exploração de petróleo no Brasil, o fracasso da iniciativa foi de 100%, porque todas adotaram o método ortodoxo de pesquisa, tendo de abandonar as empreitadas gerando apenas as quadrilhas de ladroes governamentais atualmente descobertos e devidamente processados.


CONCLUSÃO

A pesquisa de petróleo para ter êxito é necessário que seus pesquisadores conheçam perfeitamente as condições tectônicas da área de ocorrência, daí a importância de um mapa geológico perfeito, dentro das regras geológico/estratigráficas. Os métodos ortodoxos (mapeamento sísmico, paleontológico, gravimétrico, elétrico etc), não tem aplicação na pesquisa de petróleo em bacias com as características geológicas das bacias brasileiras.

O modo de exploração que deve ser aplicado à pesquisa de hidrocarbonetos em bacias do tipo Recôncavo, será tratado em outro capitulo.